quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Presidente da República garante que ninguém o escuta, só mesmo o Governo

Sentindo-se marginalizado na comunicação com os cidadãos, Aníbal Cavaco Silva viu-se forçado a dirigir-se ao país e a denunciar uma situação que considera lamentável, do ponto de vista institucional: a de que está a ser escutado pelo Governo.
Mas a villa lusitana sabe que a verdadeira motivação da declaração ontem emitida pelo nosso Presidente da República foi o facto de este se ter apercebido de que ninguém prestava atenção ao que ele dizia, a não ser o Governo (e mesmo este teve necessidade de criar um esquema rotativo nas pessoas que realizavam as escutas e naqueles que as passavam ao papel extraordinariamente inovador e que se veio a revelar uma medida benéfica de combate ao desemprego, pois havia a necessidade de substituir cada um dos envolvidos naquelas tarefas de 3 em 3 minutos, sob pena de haver uma asfixia por monotonia).
Cavaco Silva ter-se-á apercebido daquele facto quando deu ordens para que, na página oficial na internet da Presidência da República, o contador diário de visitas apenas registasse e validasse uma visita por IP. O resultado foi a diminuição drástica de visitantes diários de uns inacreditáveis 6.980.546.326 (em média) para 1, momento em que compreendeu que os anteriores números tinham sido provocados pelos seus acessos à página, tendo em atenção que agora é um fanático das novas tecnologias e, entre um veto a um diploma, uma visita oficial ou uma ida ao leito conjugal só para ver se a Maria ainda lá estava, consagrava todo o tempo profissional à navegação e actualização dos conteúdos daquela página.
A situação agravou-se quando, em banal conversa com José Sócrates durante um acto solene, este lhe ficou com 300 € ao apostar, e acertar, na cor das cuecas que usava, indo ao pormenor de descrever a marca e os motivos florais que a decoravam, o que o deixou deveras intrigado e o fez recordar-se de ter ligado à sua mulher, antes de sair do Palácio de Belém, a perguntar-lhe se deveria levar slips ou boxers e quais os que melhor ficavam com a gravata que ela lhe deixara.
O pior foi quando descobriu que uma mensagem secreta, de correio electrónico, onde trocava fotografias suas tiradas numa praia perto de Boliqueime, no Verão de 57, com uma pretensa admiradora virtual que encontrara numa sala de chat e que usava o nickname de Jsó@gov.portugal.pt, com a qual passara muitos finais de tarde em amena cavaqueira a falar das teorias keynesianas para o sistema monetário internacional e a gozar com o aspecto alucinado de Vítor Constâncio, foram parar durante uns minutos à página oficial do Governo na internet, com uma legenda onde se lia "E é isto nosso Presidente, benza-nos o Senhor!".
Foi a gota de água que fez transbordar a taça e o levou a comentar com Fernando Lima a sua suspeição, tendo este último sugerido que o melhor seria testar a fidelidade do sistema informático implementado na Casa Civil através do envio de uma mensagem a um amigo jornalista a descrever a situação. Como o sistema estava todo controlado pelo Governo, o mais certo seria a dita mensagem nem sequer chegar àquele, e essa seria a prova final, fazendo com que o Governo percebesse que o seu plano havia sido desmascarado e tivesse de optar por outra estratégia (tipo subornar as empregadas de limpeza com a oferta de lugares de direcção intermédia em organismos públicos a troco de preciosas informações sobre a vida do Senhor Silva).
O problema é que, por lapso, o único endereço de correio electrónico que não estava controlado era, precisamente, o de Fernando Lima, e tudo descambou quando o jornalista recebeu, efectivamente, a mensagem.
Apesar de parecer ter afectado a imagem pública do Presidente, a villa sabe que este rocambolesco episódio terá contentado Cavaco Silva que, agora, pelo menos tem a satisfação de saber que não é apenas escutado pelo Governo, mas sim por todo o Portugal, tendo dessa forma dizimado a sondagem de opinião, por si encomendada, que dava conta de que, aquando do último discurso proferido em directo, apenas se encontravam sintonizadas 23 televisões na estação que o emitia em todo o Portugal, sendo que 22 eram as existentes no Palácio de Belém e a única que sobrava era a de um estabelecimento de venda de bifanas que, tendo o proprietário muito trabalho no dia do discurso do Presidente, não conseguiu mudar o canal para algo mais apetecível, valendo o facto de, pelo menos, o aparelho receptor ter o som estragado (caso contrário, nem que tivesse de baixar o lume para não esturricar o óleo, segundo garantia dada pelo próprio, o proprietário do estabelecimento teria ido buscar o comando para mudar de canal).
E vai evitar que o nosso Presidente, em próximo acto público em que tenha de discursar, se veja forçado a retirar o microfone a José Sócrates para se fazer ouvir convenientemente por todos os presentes, que não conseguirão abandonar a sala por existirem ordens de fechar por fora todas as saídas.
É este o sistema político que temos.
Graças a Deus... e à Democracia!
Hic Hic Hurra

2 comentários:

Rabodesaia disse...

"Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
Grande verdade, esta!

Bottled (em português, Botelho) disse...

Minha cara vizinha,

A democracia tem a vantagem, ou desvantagem, de se poder transformar noutras formas de governo, que assim ficam dissimuladas sob o diáfano manto democrático.

E quem se asfixia depois?

Talvez quem lhe sirva de fundamento...

Hic Hic Hurra